A campanha presidencial americana de 2024 já ganhou dois registros em livro. Nenhum oferece profundidade histórica, mas ambos reforçam a fé de que a insistência de Joe Biden em se candidatar era uma catástrofe anunciada que nem seus assessores nem a liderança do Partido Democrata tentaram evitar a tempo.
O mais recheado de fofocas é “Fight: Inside the Wildest Battle for the White House” (luta, dentro da mais selvagem guerra pela Vivenda Branca, em tradução livre) que acusa o entorno de Biden de enganar o povo americano, escondendo o declínio mental do presidente. Os autores são dois repórteres, Jonathan Allen e Amie Parnes, que não tiveram entrada aos responsáveis pela campanha.
O segundo livro é “Uncharted: How Trump Beat Biden, Harris, and the Odds in the Wildest Campaign in History” (ignoto: porquê Trump derrotou Biden, Harris e as probabilidades na campanha mais selvagem da história), de Chris Wipple. O responsável discorda da tese do acobertamento, mas não oferece uma tese suasivo sobre o que motivou democratas veteranos de outras Presidências a não toar o rebate sobre a evidente fragilidade do candidato.
Ficamos sabendo que Barack Obama, o mais popular democrata dos EUA, juntou-se à pressão para Biden desistir —o que ele fez em julho—, mas era radicalmente contra a escolha de Kamala para liderar a placa em novembro. Obama deu aprovação antecipada ao editorial que seu camarada próximo George Clooney publicou no jornal The New York Times pedindo a repúdio da candidatura de Biden. Se as fontes citadas nominalmente ou anônimas dos dois livros são confiáveis, o declínio cognitivo de Biden já era simples no primórdio de 2024, quando o presidente tinha 81 anos.
Allen e Peters citam comentários de interlocutores que descreviam um director de Estado quase fantasmagórico. Grandes doadores de campanha manifestavam perplexidade sobre jantares extremamente coreografados e, ainda assim, Biden perdia o fio da meada em conversas.
Kamala foi surpreendida pela repúdio e teria tido uma conversa surreal com o director, suplicando a Biden que ele endossasse imediatamente sua candidatura para transferir os delegados democratas na convenção do partido em agosto. Ao mesmo tempo, Obama e a influente deputada Nancy Pelosi agiam para que a convenção fosse disputada, não uma coroação de Kamala.
Parece possuir consenso de que Kamala não considerava a possibilidade de derrota e, ao saber do resultado, em novembro, perguntou se haveria recontagem de votos. Também é difícil duvidar da versão de que Biden, obcecado pela própria legado política, engessou a mensagem da candidata, insistindo que ela não podia expressar qualquer diferença de opinião sobre as prioridades do presidente. Por que Kamala se intimidou? É uma pergunta sem resposta satisfatória nos dois livros.
Os democratas martelavam a mensagem sobre o risco do autoritarismo sob Trump, os americanos se queixavam do preço dos ovos e a campanha limitava o entrada à candidata, enquanto Trump percorria estúdios de podcast e se colocava disponível para mídias alternativas.
Se ainda não é provável explicar o fracasso dos democratas em 2024, os dois livros lembram que a imprensa política americana continua embriagada com a proximidade ao poder. E cobre campanhas porquê corridas de cavalos em que a democracia sempre sai perdendo.
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