O cristianismo de Trump lembra o do imperador Constantino – 08/04/2025 – Cotidiano

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Trump recebeu de presente a cruz do imperador Constantino das mãos do pároco Elpidophoros, da Igreja Ortodoxa Grega dos Estados Unidos. O líder religioso acrescentou: “Rezo para que o Senhor traga sossego ao mundo e torne a América invencível”. Qual o significado desse gesto que compara Trump a essa figura histórica?

A entrega ocorreu durante a cerimônia, na Morada Branca, por ocasião da celebração do 224º natalício da independência grega. O pároco citou a tradição associada a esse símbolo. O imperador Constantino teria tido um sonho no qual viu a cruz no firmamento acompanhada da mensagem: “Com nascente sinal, vencerás”.

Ao se transmudar ao cristianismo, Constantino, o Grande, pôs término às perseguições contra os cristãos em Roma. Seu gesto foi comemorado por Eusébio, prelado de Cesareia e historiador do cristianismo: “Em todas as cidades o imperador vitorioso publicou decretos cheios de humanidade e leis que davam prova de munificência e verdadeira piedade. Toda tirania havia sido expurgada”.

O “match” entre Constantino e os bispos era tão bom que o mais importante concílio da história cristã, Niceia no ano de 325 d.C., foi presidido pelo imperador. Em Niceia foi decretada a potestade de Jesus, unificada a data da celebração da Páscoa e estabelecida a estrutura de governo da igreja cristã.

Teria Donald Trump a oportunidade de realizar gestos porquê os de Constantino em mercê das igrejas cristãs? Por fim, passados 1700 anos, os tempos são outros. No Império Romano os discípulos do nazareno eram de roupa uma minoria contracultural perseguida. Nos Estados Unidos da atualidade, cristãos conservadores estão mais para uma minoria ressentida pela suposta perda da supremacia dos valores cristãos na sociedade.

O significado da imagem de Trump segurando a cruz de Constantino é semelhante à imagem dele segurando uma Bíblia. Segundo o historiador da USP Marcelo Rede, em artigo nesta Folha, ao posar com a Bíblia nas mãos, Trump reforça a imagem de líder político ungido por Deus para realizar sua vontade na Terreno.

Se Constantino pôs término às perseguições e prisões movidas contra os cristãos, Trump procura combater um pouco menos objetivo, mas presente nas falas de cristãos conservadores, e que ele tem chamado de “viés anticristão de políticas públicas do governo e das universidades”.

A geração do “Escritório da Fé” e da força-tarefa liderada pela secretária de Justiça Pam Bondi demonstra a disposição de Trump em implementar ações que beneficiem grupos cristãos conservadores, que foram importantes para sua eleição. Esse esforço tem o obrigação de “identificar políticas, práticas ou condutas anticristãs ilegais” e propor medidas para revogá-las ou encerrá-las.

A pergunta que me faço, enquanto cristão e pastor, é: Donald Trump ajuda ou atrapalha o testemunho da fé ao utilizar seu poder presidencial para tutorar pontos de vista dos cristãos conservadores? A almejada recuperação da influência cristã na sociedade estadunidense virá de um Trump “constantinizado”?

Minha resposta vem do aprofundamento da conferência sugerida pelo pároco Elpidophoros entre Trump e Constantino. A influência do imperador sobre a igreja fez com que Jesus deixasse de ser retratado porquê o prisioneiro romano crucificado e passasse a ser visto porquê o Cristo “Pantocrator”, o Cristo “Todo-poderoso”, um pouco muito mais próximo de porquê o imperador romano se via e porquê Donald Trump, o “noviço” de imperador, se vê.

A cruz nas mãos de Trump zero tem a ver com o Cristo crucificado no qual eu creio. A cruz de Constantino nas mãos do presidente é trote aos valores de paixão e vulnerabilidade que fizeram com que Jesus fosse crucificado pelos poderosos da religião e da política do seu tempo. Porquê pode o “noviço” de Constantino tomar em suas mãos o símbolo cristão da fraqueza enquanto se vale de políticas persecutórias para “crucificar” trabalhadores imigrantes, estudantes pró-Palestina e LGBTQIA+?



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