Corintianos, habemos técnico! – 25/04/2025 – Becky S. Korich

Esporte


As malas estavam prontas. A torcida, idem. A camisa, esticada na cadeira. Os microfones, posicionados para a coletiva. Os memes já corriam soltos. Até o treinamento estava agendado. Só faltava a assinatura do papel —verbalmente, já estava assinado— e dar o pontapé inicial. Tite travou: bateu na trave.

Na véspera do proclamação, no pausa entre uma noite de sonho e o amanhecer da veras, o esquema mudou. O professor recuou. Sofreu uma crise de ansiedade, o que o levou a pedir tempo e a determinar dar uma pausa na curso. Preferiu recuar para a zaga, escolheu se tutelar. Decidiu se proteger e proteger o seu maior time: a família.

A instabilidade na saúde mental do técnico impediu o retorno ao Grupo de Loucos. Mais um paradoxo alvinegro.

Quem não estava pronto para esse plot twist eram as almas corintianas, sempre tão inquietas e ávidas. Justo agora? Justo na nossa vez? A sensação foi a mesma de perder de viradela no último minuto da prorrogação. Haja coração.

Meu rebento, corintiano roxo, ficou vermelho —não sei se de raiva ou vergonha por ter zoado os amigos palmeirenses no dia anterior. A única coisa que consegui falar para ele foi: “aceite que dói menos para nós, respeite que dói menos para o Tite”. O rebento do Tite também sofreu, teve de recalcular a rota.

Os comentários, é simples, choveram no minuto seguinte ao proclamação: “Nem o Tite aguentou o Corinthians“; “Voltou o traumatismo de 2022?”; “Fugiu do rebaixamento”; “Tite desmarcou! Deve ter visto o elenco”. A verdade é que o técnico fez o que poucos têm coragem de fazer: priorizou a si mesmo. No país do “vai pra cima, professor”, ele foi pra dentro. Dentro de si, onde se deparou com um varão de 63 anos, cansado, vulnerável, mas também corajoso. Foi um recuo bonito, digno, uma tática acertada: Tite salvou o Corinthians. Se o técnico de um time não tiver condições de ser o suporte emocional dos jogadores, não há tática que vença.

Tite não está sozinho. O esporte, com toda a sua venustidade e paixão, pode ser um envolvente cruel, referto de pressões e cobranças. Exige mais do que o corpo. Exige da mente, da espírito. Exige recordes, superações, exige o impossível —o que, às vezes, até acontece. Mas raramente oferece um espaço seguro para que atletas e técnicos se percebam e tenham a liberdade de manifestar: “Não estou muito”.

Gabriel Medina decidiu se distanciar de algumas etapas do rodeio mundial de surfe, buscando estabilidade em meio ao turbilhão de emoções vividas na era. Teve a sabedoria de transpor da vaga antes que ela o derrubasse. Nossa Rebeca Andrade, dona de seis medalhas olímpicas, passou por uma crise de impaciência e quase jogou a toalha quando teve que mourejar com três lesões no joelho. Richarlison parou pra pensar —e pra chorar—, quando comunicou que buscaria ajuda psicológica posteriormente enfrentar problemas pessoais que afetavam o seu desempenho na era.

A gigante Simone Biles escolheu a saúde mental em vez das medalhas, e despertou o mundo para a discussão necessária sobre saúde mental e esporte. Nenhum deles foi menos profissional por isso. Eles foram mais: mais lúcidos, mais maduros, mais conscientes dos seus limites. Saber parar antes de adoecer, saber pausar antes de destruir o que se nutriz ou uma relação com quem se nutriz —isso é sabedoria.

Habemos técnico. Apareceu a fumacinha branca. Temos Dorival Júnior. Sobrou para ele. O lugar estava predestinado para ser dele, um varão experiente, equilibrado e competente. Fiéis, agora é esfera pra frente.


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