Adenor Leonardo Bachi, o Tite, recusou o Corinthians dois dias detrás. Teve, subitamente, uma crise de impaciência que fez com que ele, com pedestal da família, decidisse ser necessário priorizar a saúde, do corpo e da mente. O “não” ao alvinegro paulistano tornou-se imperativo.
O treinador anunciou, via rede social, que fará uma pausa profissional, por período indeterminado. “Sou um enamorado pelo que faço e assim seguirei sendo, mas conversando com minha família e observando os sinais que meu corpo estava emitindo, decidi que o melhor a fazer agora é interromper minha curso para cuidar de mim pelo tempo que for preciso.”
É evidente que a saúde deve estar sempre em primeiro lugar. Sem saúde, não se consegue trabalhar recta, viver recta.
Palato de Tite. Não o conheço pessoalmente, mas criei a imagem de um ser humano com bons valores, cauteloso ao que acontece na sociedade, e o vejo uma vez que um técnico competente, devotado, emotivo.
Perguntei-me: o que está se passando exatamente com Tite, 63, treinador experiente e vitorioso, com títulos de Campeonato Brasileiro (duas vezes), de Despensa do Brasil, de Libertadores, de Mundial de Clubes, além de uma Despensa América com o Brasil?
Frise-se que ficou marcado, entretanto, na seleção brasileira por duas dolorosas eliminações em quartas de final de Copa do Mundo, na Rússia e no Qatar. O Brasil foi superior na derrota por 2 a 1 para a Bélgica, em 2018, e diante da Croácia, quando teve o jogo nas mãos na prorrogação, levou um gol de contra-ataque e sucumbiu nos pênaltis, em 2022.
Tite precisará de tratamento específico, com séquito médico? Serão necessários cuidados psiquiátricos para que possa se restaurar e se sentir capaz a retomar suas atividades no futebol? Terá de tomar remédios tarja preta? Haverá urgência de internação? Ou é menos sério, e somente repouso prolongado resolverá?
Há alarmismo nessas perguntas, que por ora estão sem respostas? Talvez. Mas, sem esclarecimentos, são hipóteses plausíveis.
Tite é muito reservado, quase inacessível para entrevistas –no cenário atual, nem seria recomendável. Tentei falar com seu rebento, Matheus, que é também seu facilitar técnico, pessoa indicada para detalhar a situação, porém não tive retorno.
O que se sabe é que Tite é uma pessoa que lentidão a assimilar as derrotas mais duras. Fica remoendo-as. Estou notório de que sofre até hoje com as quedas nos Mundiais com a seleção. Ainda mais sabendo que tinha time, nas duas vezes, para ser vencedor.
Tanto que demorou dez meses, depois da Copa no Qatar, para voltar ao futebol. Sem cabeça, recusou, no prelúdios de 2023, invitação para comandar a seleção da Coreia do Sul, contrariando o libido de trabalhar no exterior. Na metade daquele ano, esteve perto de ir para o Al Hilal, da Arábia Saudita, que acabou fechando com o português Jorge Jesus.
Tite aceitou logo o Flamengo, time de maior torcida no Brasil. Pressão maior, impossível. Mesmo tendo ganhado, invicto, o Estadual do Rio em 2024, nunca o senti confortável na Gávea, e pessoa próxima ao treinador me disse que ele parecia deslocado no rubro-negro carioca, sem combinação ou identificação com o clube.
Acabou demitido no fim de setembro, depois da eliminação na Libertadores, nas quartas de final, para o uruguaio Peñarol, em jogos parelhos (0 a 1 e 0 a 0), com o Flamengo vivo na Despensa do Brasil e em quarto lugar no Brasílico.
O quanto essa destituição afetou Tite mentalmente? Não se sabe, ele nunca comentou a saudação. O quanto o vestimenta de ser o Corinthians, time que tem a segunda maior torcida do Brasil, a “esfera da vez” para o treinador influenciou nessa crise de impaciência que determinou a desistência? Não se sabe.
O técnico foi corajoso ao expor uma situação que, nota-se, é crescente no esporte, a da saúde mental, ou a falta dela. O caso mais célebre é o da norte-americana Simone Biles, nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021 –a superginasta, com a mente desordenada, desistiu de várias provas.
A cabeça de Tite está em desordem, o que afeta seu corpo. Faz muito em ter cuidados com isso, em se tratar. E fará muito, depois, caso se abra e reporte a sua experiência, para que as pessoas possam aprender com ela e, se verosímil, prevenirem-se.
Finalmente, lembrando o poeta italiano Juvenal, “mente sã, corpo são”.
Boa recuperação ao Adenor Leonardo Bachi.
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