Quem são os intelectuais que preparam apocalipse de Trump – 19/04/2025 – Ilustríssima

Mundo


[RESUMO] O que Peter Thiel, Alexander Karp, Nick Land, Curtis Yarvin e Elon Musk têm em geral? Personalidades influentes no conservadorismo americano, eles acreditam que a democracia liberal levou o Oeste a um estado de estagnação e depravação moral. Atuando nas sombras do governo de Donald Trump, defendem que unicamente um grande esforço conjunto para dominar a perceptibilidade sintético, a novidade explosivo atômica, permitirá solucionar esse impasse e apurar o mundo —o que, para os cidadãos comuns, pode valer o termo da tradição democrática.

Talvez sem saber, o cineasta Christopher Nolan nos revelou, em seu filme “Oppenheimer” (2023), a lógica suprema do segundo governo de Donald Trump.

Em uma fala do personagem Lewis Strauss, que na vida real participou dos bastidores da gestão americana durante a Guerra Fria, o ator Robert Downey Jr. profere as seguintes palavras com eloquência grega: “Amadores procuram o sol. São devorados. O poder mora nas sombras”.

A referência é ao mito helênico de Ícaro, que constrói uma asa com penas e cera para fugir da prisão labiríntica criada por seu pai, Dédalo. Ícaro ignora os conselhos e aproxima-se demais do Sol, fazendo com que a cera derreta, ele caia do firmamento e morra afogado.

Hoje a frase dita no filme também pode ser aplicada às cabeças que tentam manobrar Trump: Peter Thiel, Alexander Karp, Nick Land, Curtis Yarvin e Elon Musk.

Comecemos pelos amadores: apesar de ser um bilionário, de ser considerado o “Napoleão dos nossos tempos” e de ter feito revoluções tecnológicas admiráveis, tanto no campo da corrida espacial (as naves e os mísseis da Space X) quanto da mídia (a compra do Twitter, rebatizando-o de X), Musk é o “boi de piranha” desta administração.

A função dele é unicamente sustentar os choques da oposição contra Trump —e zero mais. Esqueçam o comando de Musk no tal do Doge (Departamento de Eficiência Governamental). Serve unicamente à superfície de um projecto muito mais ousado, no qual a reforma do Estado é somente o primeiro passo.

Uma reforma a ser feita de maneira a privilegiar o comando de uma mão de ferro, de um presidente que aja porquê um César redivivo, impondo medidas executivas de cima para grave: eis o sonho de Curtis Yarvin, também divulgado pela cognome de Mencius Moldbug (o primeiro nome é uma referência ao pensador chinês Confúcio).

Yarvin (que veio ao Brasil em 2023 vulgarizar suas ideias para pequenos grupos da direita) deve ser lido com extrema cautela. O motivo? Não é sua visão de mundo, composta por um visível pessimismo sobre a capacidade de mudar a burocracia que realmente comanda um governo, mas simplesmente porque na verdade ele está tirando sarro do público. Yarvin é um troll do pensamento, no jargão da internet. Seu papel no jogo do poder é satirizar as nossas expectativas racionais.

Por falar em racionalidade, não podemos nos esquecer de Nick Land. Oriundo daquela terreno onde o cinza de chumbo é preponderante em sua paleta de cores (a Grã-Bretanha), ele defende um “aceleracionismo” da verdade, cuja mistura inusitada de Adam Smith e Karl Marx será a mola propulsora para um novo tipo de progresso que simplesmente precisa desprezar a democracia liberal. Se você achou que isso era um experimento para um filme de horror, acertou.

Mas, calma: haverá a solução para todos esses impasses —a “República Tecnológica”. Levante é o termo usado por Alexander Karp (junto com Nicholas Zaminska) em seu livro de mesmo nome, lançado com sucesso no início deste ano nos EUA e a ser publicado no Brasil no próximo mês pela Intrínseca.

Karp é um dos donos da empresa Palantir (batizada em homenagem a um dos artefatos mágicos da saga “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien). A especialidade dele é extrair dados dos diversos níveis da verdade (entre eles, o nosso cotidiano) e computá-los, via um software próximo do sobrenatural. Depois, com isso, ele vende novas estratégias de “antecipação do comportamento humano” para braços militares do governo americano, entre eles a CIA e o Pentágono.

Em seu tratado, Karp tem a seguinte tese: nos últimos 30 anos, a elite do Vale do Silício perdeu a sua vocação. Preferiu se render à geração de produtos de bens de consumo (aplicativos, computadores pessoais e serviços de negócio) ao invés de compreender que a internet foi a primeira período para uma inovação sem precedentes.

O correto, diz, seria que essa mesma escol se unisse ao Estado americano em um novo projecto de resguardo, que combinasse tecnologia de ponta e uma mão de obra extremamente eficiente, com o objetivo de impedir que uma outra superpotência (a China) lidere a corrida sobre quem vai dominar um novo tipo de explosivo atômica —a inteligência artificial (IA).

A confrontação de Karp entre esses dois tipos de inventos é consciente. Para ele, os EUA precisam embarcar em um novo Projeto Manhattan, a empreitada que deu origem à maior arma de devastação em volume já criada pelo varão. Agora, porém, em vez de manipular a estrutura do real por meio de prótons e nêutrons, o que temos é a IA alterando por completo o conhecimento do próprio mundo.

Por isso, Karp defende que, em termos educacionais, é necessária também uma reviravolta nos valores. Neste sentido, os EUA precisam redescobrir a relevância de tutorar a “cultura ocidental”. Em outras palavras: Karp é contra toda e qualquer espécie de cultura identitária. Na sua ótica, o wokeísmo enfraqueceu a pátria americana nos seus fundamentos, impedindo-a de promover um debate saudável sobre assuntos seríssimos, em pessoal nas universidades.

Disso, avalia, resulta uma escol política e econômica que, assim porquê os companheiros de Karp no Vale do Silício, é incapaz de dominar a própria tecnologia que criou e, portanto, incapaz também de reconstruir a república que irá apurar o resto do mundo.

O que Alexander Karp propõe, sem nenhum pudor, é um genuíno projeto de poder digno de Platão. E o sócio dele na Palantir, o empreendedor Peter Thiel, notório por ter sido o investidor-anjo de uma empresa chamada Facebook, concorda com isso em gênero, número e proporção.

Possuinte de um intelecto aguçado, capaz de financiar diversas iniciativas políticas e culturais (além da startup de Curtis Yarvin, bancou a campanha de J.D. Vance para o Senado, o que possibilitou a ingressão deste último porquê vice-presidente na placa de Trump em 2024), Thiel tem uma visão de mundo sofisticada, impossível de ser reduzida a clichês ideológicos. É alguém que deve ser respeitado e temido antes de ser desprezado (porquê a intelligentsia progressista faz com ele nos últimos anos).

De certa forma, não é excesso declarar que Peter Thiel é o rei-filósofo imaginado por Platão —e que o mundo se tornou o seu laboratório para a próxima “tentação de Siracusa” (quando o pensador helênico foi treinar Dionísio, o jovem tirano da província siciliana, e fracassou miseravelmente).

Além de ser responsável de um livro que se tornou uma Bíblia para a geração de startups, “De Zero a Um” (2012), ele escreveu três ensaios filosóficos que explicitam uma orientação política bastante peculiar.

Os textos são: “O Mito da Inconstância” (1995), uma polêmica contra o politicamente correto que infesta as universidades; “O Momento de Strauss” (2004), disponível no Brasil na coletânea “Política e Apocalipse”, publicada pela É Realizações, e “O Niilismo Não É Suficiente”, escrito em 2023, ainda inédito, mas que pode ser lido nos subterrâneos da internet.

“O Momento de Strauss” é uma homenagem a Leo Strauss, pensador boche exilado nos EUA por culpa do nazismo, que desenvolveu uma filosofia baseada em estratégias retóricas que nos ajudam a evadir do totalitarismo da modernidade, um pouco dispendioso a Thiel.

“O Niilismo Não É Suficiente” é um diagnóstico agudo sobre a paralisia existencial que atinge o mundo contemporâneo e que, logo, alimenta a mesma estagnação do progresso tecnológico e do papel das elites já analisada por Karp.

No fundo, o que une todos os nomes citados supra, junto com a gestão Trump, é a esperança de que o impasse atual só será resolvido por meio de uma ruptura apocalíptica —de preferência feita por esses poderosos que se escondem nas sombras.

O vocabulário religioso não é usado cá de maneira displicente. Vejamos o exemplo de Thiel: ele é um cristão conservador assumido (apesar de, paradoxalmente, ser também um homossexual militante), além de discípulo do antropólogo René Girard.

Girard é conhecido pela sua “teoria mimética”, segundo a qual o comportamento humano é motivado pelo libido de imitação: copiamos uns aos outros porque sempre há uma terceira pessoa que estimula isso.

Quando essa relação permanece em estágio de ignorância, aumentando assim o libido metafísico de se apossar e de ser o outro, as tensões se avolumam, até que haverá uma situação de violência em que alguém será inevitavelmente sacrificado (em termos metafóricos ou reais). A partir dessa vítima (o “cabrão expiatório”), o ciclo de imitação se renova e tudo recomeça até chegar a um novo impasse —e a um novo conflito.

Para Girard, o cristianismo foi a religião que revelou esse mecanismo sangrento aos olhos de todos —e nos possibilitou, grosso modo, edificar a cultura moderna em que estamos inseridos, uma cultura dos quais o verdadeiro herói sempre será o mais fraco.

Thiel adota em secção todos esses pontos do pensador galicismo; por fim, foi seu aluno na Universidade Stanford e ajuda a vulgarizar seu pensamento por meio das ações do think tank chamado Imitatio.

Mas não é unicamente isso. Girard e Thiel acreditam que a mensagem do evangelho cristão é de apocalipse —isto é, da revelação das primeiras e últimas coisas de porquê o mundo realmente funciona. Porém, o discípulo acrescentou um pouco que o rabino nem sequer imaginou, ao perverter esta esperança autêntica com um pormenor: a relevância da técnica, e da tecnologia, neste processo.

É cá que os projetos de Thiel, Karp, Land, Yarvin, Musk e Trump convergem de forma assustadora. Para eles, a IA é a novidade explosivo atômica, um poder que contém a violência inevitável do Anticristo —simbolizado, nessa perspectiva, pela ordem democrática liberal dos últimos 70 anos, responsável pela depravação moral do Oeste, e que chegou ao seu vértice entre os anos 1990-2000.

O uso do verbo “moderar” é proposital. Thiel e sua turma —apelidada erroneamente pela prensa de “Dark Enlightement” (iluminismo sombrio), pois pouco se preocupam a racionalidade filosófica— têm a crença absoluta de que, hoje, eles são o “katechon” dos nossos tempos.

Esta sentença, retirada da Segunda Epístola aos Tessalonicenses e atribuída ao evangelista Paulo, significa indistintamente “algo-alguém-alguma coisa” que detém um poder e que “retém-freia-atrasa” o definitivo triunfo do espírito da inclemência (o “Anticristo”), travando assim “o seu aniquilamento pela força da boca do sopro do Senhor”.

Aparentemente, presume-se que os poderes que exerceriam esta função na nossa era seriam o do Estado (em pessoal na variação imperial ou “globalista”) e o da igreja cristã (católica ou protestante).

Mas, segundo um dos estudiosos do tema, o filósofo Massimo Cacciari em “O Poder que Freia” (Âyiné), há, na verdade, um campo de forças e de tensões sobrepostas, que se acumulam e se dissolvem, às vezes de forma consciente, outras de maneira imperceptível à consciência humana.

Esta “rede”, fortemente conectada em seus nós górdios (e muito semelhante à internet oriunda do Vale do Silício), dá a certeza de que esses dilemas só serão plenamente resolvidos em um grande evento apocalíptico de proporções inimagináveis. E justamente por culpa do poder do “katechon”, que freia tal desenlace definitivo, as crises mundiais (políticas, sociais, espirituais) se tornam progressivamente permanentes, sem nenhuma solução evidente.

Ou seja: estamos na era da “insecuritas”, na qual a instabilidade e a incerteza trarão a paralisia e a anomia —a “stasis” da guerra social indefinida e indiferenciada— ao nosso volta.

No entanto, se reconhecermos que vivemos em pleno “katechon”, isso nos induz a concluir também que não há outra solução exceto admitir oriente cenário de impermanência.

Assim porquê o grupo liderado por Peter Thiel, não queremos admitir que somos desesperados, sem nenhum outro intermédio, do Estado ou da igreja; também não queremos consentir, em seguida décadas na submissão dessas instituições “pluralistas e democráticas”, que todas as mediações humanas foram destruídas por completo.

Porquê afirmou o próprio Thiel em uma das suas palestras públicas mais recentes: “Talvez não devemos temer o Apocalipse, mas sim o Anticristo”. O problema é quando oriente evento apocalíptico é também esperado pela nêmesis deste “katechon” tecnológico —no caso, a esquerda revolucionária.

Por fim, segundo Richard Landes, na obra-prima “Será que o Mundo Inteiro Está Incorrecto?” (lançada cá pela editora Contexto), a cultura woke é um resultado daquilo que pode ser classificado porquê “mentalidade do ano 2000”, em que “durante toda uma geração, o Oeste gerou e implantou um conjunto de objetivos ideológicos progressistas que ao mesmo tempo aumentou a variação e a originalidade da cultura e minou a sua própria tessitura”.

Ora, se ambos os lados que disputam o papel do “katechon” entram na rivalidade apocalíptica, dos quais objetivo supremo é controlar o funcionamento da IA, o que sobra?

Sobra Donald Trump, o “Avatar Do dedo” que anulará e conciliará todas essas simetrias de forma terrível, o monstro guardado a sete chaves no meio do labirinto do poder. Ele veio com correntes e martelos para destruir o Ancien Regime do liberalismo e implementar uma novidade ordem, ainda desconhecida, mas que sem incerteza virá para cometer o mais sério dos crimes: a extinção da memória humana.

Levante veste aterrorizante será apressurado pela IA bancada por empresas porquê Palantir e OpenAI, entre outras. Porquê se isso não bastasse, ao provocar o caos econômico para reiniciar as relações internacionais entre a China e a União Europeia, Trump brinca diante da mídia porquê se fosse o amante que será devorado pelo Sol, provocando uma dissonância cognitiva impecável na intelligentsia progressista, quando, na verdade, o ex-magnata joga com esses tecnocratas escondidos nas sombras, para finalmente mostrar que, no termo, ele é o próprio Sistema Solar.

No entanto, porquê qualquer pedaço da nossa galáxia, um dia oriente sistema se transformará em um buraco preto —e a era de Trump será indiscutivelmente o seu núcleo vândalo, apesar dos seus (eventuais) acertos e dos seus (constantes) erros.

O presidente americano, com a sua “República Tecnológica” do Vale do Silício, irá dilapidar o que restou da nossa história e da nossa tradição —enfim, a nossa humanidade—, em parceria com outros governos e movimentos totalitários, porquê a China, a Rússia e o islamismo radical.

Haverá evasão para nós, pobres mortais? É sempre bom lembrar que o complemento ao mito de Ícaro é a história do seu pai, o opífice Dédalo.

No silêncio, no exílio e na astúcia que marcaram a sua biografia, ele construiu o labirinto que aprisionava o Minotauro. Acabou recluso nele; depois conseguiu evadir, sabendo que seu carrasco, o rei Minos, não dominava o ar. O dispêndio disso foi a vida do seu fruto.

Ao enterrá-lo com as próprias mãos, concluiu que, apesar da tragédia inevitável, precisava festejar a geração humana, envolta no sigilo da existência.

Enquanto vivemos a ruptura apocalíptica do governo de Donald Trump, devemos imitar o exemplo de Dédalo, sem dúvida.

Por fim, se o poder mora nas sombras porque os amadores sempre procuram pelo Sol, a única certeza que nos resta é a de que ninguém neste planeta é proprietário do firmamento —e será nele, mais cedo ou mais tarde, que encontraremos a nossa liberdade.



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