Que o mundo do montanhismo é majoritariamente masculino e, sim, um tanto machista, não chega a ser uma novidade. Quando se fala em altas montanhas, logo, muitos meninos gostam de se exibir quase porquê super-homens, os machos princípio das causas impossíveis. Mas, para mostrar que mulheres podem tudo o que eles podem e, se bobear, um pouco mais, um projeto está em curso para levar três escaladoras ao elevado do Himlung Himal, serra de 7.126 metros de altitude na região do Annapurna, no Himalaia. Elas serão guiadas por sherpanis, que são as mulheres da etnia sherpa, e acompanhadas de toda uma equipe de espeque (cozinheiras, carregadoras etc) formada exclusivamente por… mulheres, evidente.
Vanessa Oliveira, 52, é a empresária, profissional de instrução física, treinadora multipotencial, triatleta e ultramaratonista avante do projeto, organizado pela Morgado Expedições, que terá ainda a participação da médica do esporte certificada em medicina de áreas remotas e montanhista há 28 anos Fernanda May, e Micaela Lopez, empresária, desportista de corrida de façanha, campeã brasileira na modalidade e apaixonada por esportes outdoor, que há 25 anos sobe montanhas caminhando, correndo e escalando.
O projeto deverá porfiar aproximadamente 30 dias em outubro próximo, e será escoltado por outro grupo de trekkers —também formado exclusivamente por mulheres— que caminhará com as escaladoras até o acampamento base do Himlung. Esse grupo, que terá uma vida relativamente mais fácil, ainda não foi formado, mas Vanessa espera receber inscrições a partir desta semana, de preferência antes de ela partir para o Denali, a serra mais subida da América do Setentrião, no Alaska, com seus 6.190 metros de altitude e um repto poderoso pela dificuldade do clima e a exigência técnica representada pela profundeza de murado de 5.500 metros da base ao cume, a maior entre todas as montanhas situadas inteiramente supra do nível do mar.
Vale lembrar que o Denali, que na língua koyukhon, nativa da região, significa “o grande”, é o nome original da serra trocado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seus dois mandatos, para monte McKinley, em homenagem ao ex-presidente republicano nascido em Ohio William McKinley, que governou de 1897 até seu homicídio em 14 de setembro de 1901. Não por coincidência, esse mandatário ficou publicado pelo ferrenho nacionalismo e pela resguardo de altas tarifas alfandegárias.
Políticas e pinimbas à segmento, Vanessa vem treinando duro, incluindo horas pelas ruas de Uberlândia, puxando um pesado pneu pelos ombros, de olho numa futura subida ao Everest. “Meu ciclo de treinamento envolve muita musculação, corrida, bike e muita marcha arrastando um pneu, que eu simulo porquê o trenó que vou ter que retirar lá no Denali com uns 50 quilos, quase meu peso”, diz. “A teoria é simular o sumo da exigência que vou enfrentar, para trazer um pouco mais de especificidade e entender porquê o corpo vai reagir fisicamente”.
E por que só mulheres, pergunta a jornalista se fazendo de tonta. “O envolvente de serra é masculino, e se a gente conseguir realizar coisas só com uma força feminina, talvez inspire outras mulheres não só para isso, mas a buscar aquilo em que às vezes a gente não acredita e levar essa força para qualquer outro envolvente”, responde Vanessa, ressaltando que, apesar de triatleta e ultramaratonista, “zero traz mais autoconhecimento do que a serra, é um momento em que você se conecta com você mesmo e consegue ver o que realmente é, vai muito além de só ocupar um cume”.
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