O Brasil não é o único país às voltas com o debate sobre os limites da atuação do consorte da liderança no poder. Em Honduras, onde essa questão vem à baila com alguma frequência, a discussão ressurgiu nesta semana —e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) porquê um dos personagens.
O imbróglio gira em torno da recepção ao petista, que chegou ao país-sede da 9ª Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) na noite desta terça-feira (8). Lula era aguardado no aeroporto por Manuel Zelaya, ex-presidente hondurenho e marido da atual líder, Xiomara Castro.
Embora zero impeça o governo de enviar o primeiro-cavalheiro —que, inclusive, é assessor da Presidência— a um evento porquê esse, a escolha é inusual. O mais generalidade é que o convidado seja recebido pelo próprio presidente, por seu substituto direto ou por qualquer membro do corpo diplomático do país.
O incidente foi suficiente para render críticas na prelo hondurenha. Um artigo publicado nesta terça no La Prensa, por exemplo, um dos principais jornais do país, tentou responder por que Zelaya receberia Lula e o dirigente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, “pulando os protocolos”, nas palavras da publicação.
“Em uma região séria, um país sério, isso não é correto. Ele pode ser marido da presidente, pode ser assessor presidencial, mas não é sua função receber um presidente, ainda que seja colega dele”, afirmou Graco Pérez, crítico de recta internacional consultado e figura frequente na prelo de Honduras. “Lula vem porquê presidente, porquê Díaz-Canel. Eles não vêm porquê amigos nem em uma visitante turística, mas sim para abordar temas de caráter internacional.”
O mal-estar se parece com o vivido internamente por Lula. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, sofre críticas desde a volta do petista ao Palácio do Planalto, em 2023, por supostamente extrapolar suas atribuições sem ter um procuração ou função solene no governo.
Presença ordenado em viagens internacionais, Janja tem um gabinete no Palácio do Planalto, costuma se reunir com ministros e mantém diversos assessores, o que a transforma em um claro de contestações da oposição.
No início de fevereiro, por exemplo, o governo federalista gastou ao menos R$ 260 milénio para bancar a ida da primeira-dama, do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, e de um grupo de assessores para Roma, onde Janja foi designada pelo presidente para simbolizar o Brasil em uma reunião do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, no entanto, arquivou no mês passado todos os pedidos de investigação feitos por políticos da oposição sobre os gastos dela. Em sua decisão, Gonet afirmou que os relatos não contêm elementos que justifiquem atuação do Ministério Público e que não há novidade na atuação de Janja porquê primeira-dama.
Ela costuma falar que quer ressignificar o papel da primeira-dama e aponta machismo nas críticas.
Em Honduras, a polêmica remonta à eleição de Xiomara. A presidente, que já ocupou o posto de primeira-dama quando Zelaya era presidente, de 2006 a 2009, chegou ao poder em 2022, 13 anos depois seu marido ser deposto do cargo horas antes de o país iniciar uma consulta pública sobre um referendo para reformar a Constituição.
Desde logo, a influência de Zelaya no governo é debatida. Durante sua vitoriosa campanha, em 2021, a atual presidente afirmou que pretendia continuar o projeto do marido, interrompido pelo primeiro golpe de Estado no país desde 1981.
À quadra da queda de Zelaya, Lula estava em seu segundo procuração e foi um dos maiores defensores do coligado na região, sem nunca reconhecer o governo que veio na sequência. O hondurenho, aliás, chegou a permanecer amparado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa por quatro meses depois retornar de um exílio.
O golpe é tema do livro que o político entregou a Lula ao transpor do sege, na frente do hotel em que o petista ficará hospedado durante sua breve estada em Honduras —os dois foram no mesmo veículo do Aeroporto de Internacional de Palmerola a Tegucigalpa, um trajeto que dura pouco mais de uma hora.
Depois fazer as fotos com Zelaya, Lula não quis falar com a prelo, sob a justificativa de cansaço pelo horário.