Iniciado há pouco mais de uma semana, o Campeonato Brasileiro já vive uma crise de arbitragem. A segunda rodada, realizada no sábado (5) e no domingo (6), teve erros evidentes, reclamações e os primeiros afastamentos de profissionais pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Foi um péssimo início de competição para a novidade Percentagem de Arbitragem da CBF, anunciada em fevereiro. A equipe agora é coordenada por ex-juiz paulista Rodrigo Martins Cintra, que substituiu o exonerado Wilson Luiz Seneme e é auxiliado por Luiz Flávio de Oliveira, Marcelo Van Gasse, Fabrício Vilarinho, Luis Carlos Câmara Bezerra, Eveliny Almeida e Emerson Filipino Coelho.
O grupo conta com o espeque do CCEI (Comitê Consultivo de Especialistas Internacionais), formado pelo prateado Néstor Pitana, que apitou a final da Despensa do Mundo de 2018, pelo italiano Nicola Rizzoli, responsável pelo silvo na decisão do Mundial de 2014, e pelo brasiliano Sandro Meira Ricci, que atuou nas Copas de 2014 e 2018. O CCEI analisa as partidas e produz relatórios.
Segundo nota da CBF, o colegiado “constatou equívocos cometidos pelos profissionais” nas partidas Internacional x Cruzeiro e Sport x Palmeiras. Por isso, foram afastadas as equipes de arbitragem de campo e de vídeo (VAR) que atuaram nesses confrontos.
“Infelizmente, existem momentos de instruir, de coibir e também de distanciar. Neste momento, a Percentagem de Arbitragem afasta para instrução as equipes das partidas em que, na visão do CCEI, houve equívocos. O encolhimento não é simplesmente uma punição vazia, é para que possamos cuidar dos árbitros, instruí-los”, disse Cintra.
Os dois duelos citados tiveram influência direta dos juízes nos resultados.
Em Porto Prazenteiro, o Cruzeiro jogou com um desportista a menos desde os 20 minutos do primeiro tempo, quando Jonathan Jesus foi expulso por uma falta em Wesley. A infração, na visão unânime dos ex-juízes que hoje trabalham uma vez que comentaristas de TV –e na visão do próprio comitê da CBF–, não ocorreu.
Em 11 contra 10, o Internacional construiu uma tranquila vitória por 3 a 0. O jogo teve Marcelo de Lima Henrique (CE) no silvo e Daiane Muniz (SP) na cabine do VAR. Ela disse: “Marcelo, cartão vermelho muito muito aplicado”.
Já o embate entre Sport e Palmeiras, no Recife, teve seu lance decisivo no finalzinho, um pênalti apitado em disputa de Raphael Veiga com Matheus Alexandre. Nem o ex-goleiro Marcos, ídolo histórico alviverde, viu a irregularidade. “Eu prefiro perder do que lucrar com um pênalti desses. É constrangedor.”
O juiz era Bruno Arleu de Araújo (RJ), auxiliado –ou quase isso– por Rodrigo Nunes de Sá (RJ), que, de qualquer jeito, enxergou “um calço”. “O avaliador estragou o jogo, decidiu para eles”, lamentou o meia Lucas Lima, do Sport, derrotado por 2 a 1 com o pênalti convertido nos acréscimos.
Gabigol, do Cruzeiro, também ficou indómito: “Enquanto isso, a preocupação é subir na globo”.
Era uma referência ao ofício enviado pela CBF aos clubes e federações estaduais, na última semana, a saudação de “um comportamento específico que tem provocado transtorno”, “prejudicando sobremaneira a imagem do esporte que tem longa abrangência vernáculo e internacional”. “Trata-se de um jogador subir na globo com os dois pés, com o intuito de provocação à equipe rival”, esclareceu Rodrigo Cintra, que assina o documento. Pisar na bola agora resulta em cartão amarelo.
Memphis Depay usou esse artifício para lucrar tempo na decisão do Campeonato Paulista, no último dia 27, com triunfo de seu Corinthians sobre o Palmeiras. E se irritou no sábado, quando o time alvinegro teve dois gols anulados pela dupla Anderson Daronco (RS)/Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC), decisões contestadas que não impediram a vitória preta e branca por 3 a 0.
Daronco não apitou nem falta, e D’Alonso não recomendou a revisão em vídeo quando Memphis levou uma ingressão dura de Lucas Piton. Com o tornozelo bastante inchado, o holandês virou negociata e nem viajou à Colômbia, onde o Corinthians enfrentará o América de Cali nesta terça-feira (8), pela Despensa Sul-Americana.
“O VAR viu tudo”, ironizou, no Instagram, exibindo a região machucada. “Era falta para cartão vermelho, mas, em vez de ver isso, eles preferem fazer regras uma vez que a de não subir na globo. O Brasil é o país do futebol, e futebol não se joga só com os pés, joga-se com a mente. Eles têm que fazer um trabalho melhor.”
Pressionada, além de distanciar os árbitros de duas partidas, a CBF anunciou uma jornada de treinamento para os árbitros na próxima segunda (14), no Rio de Janeiro. Os problemas não vão se resolver em um dia, com “uma série de atividades no campo do Clube da Aviação (CAER) e no Meio de Vantagem da Arbitragem Brasileira (CEAB)”, mas era preciso dar alguma resposta no campo das relações públicas.
A rodada terrível da arbitragem se deu logo depois a publicação de uma reportagem da revista piauí que apontou a gastança do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, enquanto verbas de arbitragem eram cortadas. Mesmo com uma receita anual de mais de R$ 1 bilhão, a confederação engavetou um projeto de R$ 60 milhões de um meio de treinamento de árbitros.
A solução da vez é uma dinâmica de grupo no dia 14. O dia 15 já terá jogo de verdade, com o início da terceira rodada do Brasílio.
“Estamos antecipando a profissionalização da arbitragem, que começa com esse projeto-piloto já na próxima semana. Porquê ex-árbitro de futebol, a gente entende que esse trabalho no campo é fundamental, uma vez que técnica de corrida, para o avaliador buscar posicionamentos, ângulos e resolver corretamente”, disse Alício Pena Júnior, coordenador-geral do CEAB, mais um órgão da arbitragem brasileira. “Vamos trabalhar no campo para produzir resultados positivos!”