É provável que dirigentes da CBF e da Conmebol tenham feito o curso “Uma vez que Desviar o Foco Diante da Incompetência, Modo Capital 1”, by Donald Trump —e provavelmente passaram com louvor e ganharam bônus em milhas; essa gente adora um programa de milhagem.
Enquanto as arbitragens pelos gramados brasileiros seguem desastrosas e sem critério unificado, a fantástica federação de futebol, capitaneada por Ednaldo Wonka, anunciou recentemente a medida que (não) vai mudar o sabor do chocolate: jogadores não podem mais subir com os dois pés na esfera, sob risco de cartão amarelo. É a CBF em estado puro, pisando na redonda com as quatro patas.
Qualquer corintiano que só assiste a jogos do Corinthians já tentou batizar a orientação uma vez que Norma Memphis, quando na verdade ela não merece o nome de ninguém.
Memphis, o próprio, que fez a fanfarrice na final contra o Palmeiras —arrumando uma confusão que limou bons minutos do jogo e tirou o pouco foco do rival alviverde—, deu declarações em seguida a surra no Vasco demonstrando que ficou #chateado, que estão acabando com o “jogo bonito” do Brasil. De Soteldo, que duplicava sua fundura toda vez que subia na esfera, não ouvi zero.
Agora, cá entre nós, nascente humilde escrivão já percorreu gramados sintéticos e quadras de futsal em vários cantos da cidade quando era jovem. Tinha alguma dificuldade em fazer gols, dar canetas no rival ou executar qualquer outra jogada de efeito plástico (era um trabalhador com a esfera, me chamavam de Dunga, às vezes). Mas permanecer com os dois pés em cima da pelota não é difícil, até eu conseguiria. Por outro lado, também não é eficiente, não é bonito, não é zero, além de uma provocação bobinha.
Mas, ao focar no lance bestinha, a CBF tira o foco dela —e também não precisa falar sobre o péssimo nível da arbitragem, que poderia, sim, ser um pouco melhor.
Uma vez que fez o rabi e vizinho Juca Kfouri, recomendo a leitura da reportagem “Coisas Extravagantes”, de Allan de Abreu, na revista piauí.
Ali, entre outras coisas, o jornalista fala de um projeto de Wilson Seneme, ex-chefe da arbitragem, para desenvolver um núcleo de treinamentos para árbitros, por R$ 60 milhões, alguma coisa que a CBF deve lucrar em um dos trocentos acordos comerciais que realiza. O projeto, depois de revalidado num primeiro momento, acabou engavetado.
Aos torcedores que acharam um escândalo os pênaltis mal marcados nesta rodada ou as injustas expulsões, perguntem antes em quem o presidente de seus clubes votou para presidente da CBF —uma ajudinha na pesquisa, Ednaldo Wonka foi reeleito por unanimidade até 2030. Ou seja, vai resistir mais que Trump.
Livro de Boleiro
Diretor do afetuoso “Boleiros – Era uma Vez o Futebol” (1998) —com sequência em 2004—, o boleiro Ugo Giorgetti assina o livro “Era uma Vez o Futebol” (ed. Quimera, 440 págs., R$ 89), que reúne várias de suas crônicas publicadas em O Estado de S. Paulo, além de outros contos futebolísticos.
Em uma delas, escrita em dezembro de 2004 e intitulada “A Solução para Ronaldinho”, Giorgetti lembrava que o Gaúcho era um leão jogando pelo Barcelona e um gatinho na seleção. Sugeria que o problema poderia estar no banco do treinador e que, talvez, a solução fosse contratar Rijkaard, ex-boleiro e o professor do Barça. Mais de 20 anos depois, o brasílico é outro, o clube espanhol é outro, mas continuamos debatendo a mesma solução.
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